quarta-feira, 30 de abril de 2008

Novamente, o que digo

Sou de lua e de sol
e de palavras
e de carícias.
Sou de um vento morno que sopra do sul.
Sou do outono.
Telúrica: Touro. Ígnea: Leão.
Sou quem se enrosca e se estica.
Perco-me em qualquer lugar
para encontrar um outro eu
perdido.
Acredito no que me dizem,
atendo aos chamados
vivo de prontidão.
Não me permito ter medo.
Escuto meu corpo, porque me diz verdades.
Escondo meus enganos
tropeço nos meus próprios pés
vejo o que não está.
Espero o dia de voar.

Buenos Aires, 28.04.08, no avião - decolagem autorizada.

terça-feira, 29 de abril de 2008

Bolo e guaraná

Só pra não dizer que não fiz um post de aniversário.

E, é claro, pra contar que a primeira pessoa a me dar parabéns foi... O agente da Polícia Federal no setor de Imigração do Aeroporto de Confins!

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Certinha

Estou aqui em Buenos Aires aproveitando a última das minhas cinco horas de solidão. Meu vôo é 5 horas mais tarde que o do resto da minha família, o que significa que eles já devem estar a caminho do Rio de Janeiro, enquanto eu estou aqui, no hotel, aproveitando para me atualizar na internet. Mais de 100 postagens novas para ler no meu Google Reader!

Voltando ao tema, nessas horinhas o que acabei pensando foi no quanto sou certinha, e no que isso significa.

Um fato: sim, eu sou certinha. Não fumo nem nunca fumei nada, bebo pouquíssimo, devolvo troco que recebo a mais, volto pra casa antes das 3 da madrugada até hoje, ligo para minha mãe para avisar onde e com quem estou, não faço barraco em público, nunca fui a uma delegacia, e acho que a maior reprimenda que já levei foi um um funcionário do McDonald's.

Mas ser certinha hoje está fora de moda. Ser "de boa família" remete aos tempos da TFM (Tradicional Família Mineira), ou da TFP (Tradição, Família e Propriedade). É reacionário, pequeno burguês, coisa de gente cheia de frescuras e rapapés.

E eu me pego na estranha situação de tentar esconder a minha "certice". Tentar esconder o fato de que não tenho grandes aventuras para contar, nunca roubei o carro do meu pai, nunca vomitei no tapete de casa depois de uma bebedeira, nunca transei com um desconhecido em um quarto sujo de motel.

Levei e ainda levo uma vida sem grandes percalços. Estudei em um bom colégio e nunca tive problemas de notas, nem brigas com professores ou diretores. Pelo contrário, fiz bons amigos. Hoje me entendo bem com meus pais e avós.

Nunca sofri traições horríveis de amigos, e nunca traí nenhum deles. Aliás, também nunca traí namorados, ficantes, rolos. Mas fui fiel ao meu desejo, sempre que possível.

E talvez seja isso o que eu esteja querendo dizer, desde o início. O fato de que não deixo meu desejo comandar minha vida irrefreadamente não significa que eu o traia. Pelo contrário. Ser certinha talvez seja a atitude mais radical que eu possa ter, porque significa que sei o que quero, entendo o que desejo, mas sou eu mesma que decido quando o desejo vai mandar.

Quando ele manda, então, eu me entrego por inteiro.

sábado, 26 de abril de 2008

Mí Buenos Aires Querido

Primeiro post escrito na capital argentina, embora já seja o terceiro dia por aqui. Queria primeiro sentir um pouco a cidade, antes de dizer qualquer coisa a respeito.

Para mim, o melhor jeito de sentir uma cidade ainda é andar por ela. Detesto tour guiado, van com ar-condicionado e dia ultra-programado. Infelizmente, tem sido o caso de boa parte da viagem, porque estamos em oito pessoas, incluindo meus avós de mais de 70 anos.

De qualquer forma, hoje já pudemos andar um pouco pela Recoleta e por Palermo, comemos num restaurante que ninguém tinha indicado, entramos onde quisemos. A Recoleta é um bairro chiquérrimo, cheio de lojas de grife, e é onde está um cemitério famoso por seus mortos ilustres - incluindo Evita Perón, ou Eva Duarte, como era seu nome de solteira.

Palermo já é um bairro modernoso, o bairro da moda, pulsante, com lojas diferentes, restaurantes descolados. Uma super papelaria onde dá vontade de se perder, bares onde dá vontade de beber a tarde inteira vendo o movimento, e uma feirinha interessante.

Buenos Aires tem a marca das metrópoles. É a marca comum a Nova York, Londres, Sampa, aquele je ne sais quois que as distingue das cidades 'normais', o ar cosmopolita. Mas é uma metrópole cheia de parques e áreas verdes (o que a aproxima de Londres, mas penso que haja até mais verde por aqui), e nao é feérica como Nova York. E ainda, o trânsito é infinitamente melhor que o da paulicéia.

Táxi aqui é rápido e barato, nem vale a pena usar outros meios de transporte quando se está em grupo, especialmente nas distâncias curtas. E a comida é excelente, mesmo nos restaurantes menos conhecidos.

E, é claro, há toda a aventura de se viajar em família. Família Leão é uma mistura curiosa de espanhol com português e uma misteriosa pitada de italiano. E se tanta coisa me incomoda neles... Bem, é de se pensar que boa parte disso provavelmente esteja em mim, também.

Daqui a pouco, tem show de tango. É coisa pra turista ver, mas se somos turistas... ¡Vámonos!

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Razões para esperar



Existem sempre razões para esperar. Razões para não desistir. Para querer mais. Existem sempre razões para se permitir simplesmente sentir, sem explicar.

A vida não carece de explicação, até porque a verdadeira e efetiva comunicação é impossível. O que eu sinto é incomunicável (já dizia alguém, nem lembro quem, que li alguma vez).

O que eu quero, o que espero, tudo isso nem eu sei. O que eu sei é que existe um ponto em que o discurso acaba. Um ponto intangível, e é nele que é possível se encontrar.

O discurso é cheio de armadilhas. Digo algo, e já sei que serão lidas tantas intenções quantos forem os meus interlocutores. E as minhas entonações de voz, o meu erguer de sobrancelhas, tudo isso será interpretado da maneira que mais convier. Mas o meu sentido, esse só eu sei.

Meu sentido não está no que digo, meu sentido está no que sou. E se há razões para esperar, é porque todo o resto é apenas discurso.

terça-feira, 22 de abril de 2008

Reflexões aéreas


Houve um tempo em que eu adorava viajar de avião.

Meu pai morava no Rio de Janeiro, eu devia ter meus 13, 14 anos, e já podia viajar sozinha sem precisar de aeromoça-babá, nem daquele crachá horroroso no pescoço. Avião, naquela época, ainda era um troço de luxo: não era raro viajar em aeronaves com lotação pela metade, sentar na janela e ninguém ocupar as poltronas ao lado.

Além disso, era um evento, as pessoas se vestiam e se maquiavam para viajar. Eu chegava no aeroporto no auge da minha adolescência, lépida e fagueira, equilibrada num incipiente salto alto que eu mal conseguia usar. Na sala de embarque, apenas famílias em férias e executivos a trabalho. E eu: aquele ser completamente fora do lugar, me sentindo a última coca-cola gelada do deserto.

Mas o mais sensacional, mesmo, era desembarcar no Aeroporto Santos Dumont. Porque naquela época o Santos Dumont não tinha aquela horrenda sanfona que se acopla no avião, não. Tanto no Santos Dumont, quanto no Aeroporto da Pampulha (aqui em BH), a gente descia do avião para a pista, e ia fazendo aquele ar de estrela de cinema enquanto andava até o saguão. O vento soprava os cabelos, e eu adorava quando ia passar um fim-de-semana, e levava uma mala pequenininha, que ia arrastando sem nem precisar passar pela esteira de bagagem.

Saudades daqueles tempos (que nem estão tão distantes assim!). Hoje em dia, devo admitir que o prazer de voar se esvaiu, juntamente com o glamour. Aeroporto passou a ser só uma rodoviária mais arrumadinha. Ah, sim, e nada de "Frango ou peixe, senhora?" Agora é só barrinha de cereal e amendoim... E nem sempre dá pra escolher entre coco e castanha!

domingo, 20 de abril de 2008

O melhor remédio contra resfriado

Receita infalível para curar resfriado:

1. Sol e brisa do mar de Salvador - serve qualquer capital linda e ensolarada do Nordeste ( já ouvi falar bastante dos efeitos benéficos de São Luís);

2. 8-9 horas de sono por noite;

3. Exercício físico moderado - corridas, caminhadas, ou natação numa piscina azul sob aquele mesmo sol do item 1;

4. Alimentação balanceada - incluindo muita água de côco colhido do coqueiro do quintal, suco de acerolas da árvore do pomar, e um bocado de pratos envolvendo camarão.

É batata. O resfriado belorizontino que tentou se instalar de quinta pra sexta-feira não durou dois dias assim.

Fotos!

Agora acho que vai funcionar... Hospedei as fotos no Flickr!

Encontro entre rio e mar, projeto Biomangue. Pegamos um barquinho, subimos o rio, comemos acarajé. O que eu queria, mesmo, era ter enfiado o pé na lama, mas não teve jeito... E a vista era um espetáculo à parte.


Depois do Projeto Biomangue, fomos ao Projeto Tamar, na Praia do Forte. Foi a segunda vez que fui lá, o lugar é lindo. As tartarugas-marinhas são imensas, e dessa vez conseguimos até participar da alimentação assistida: dei comida pra tartaruga!


Saindo do Projeto, dou de cara com esse visual. Os barcos parados, e o sol se pondo. Mas o mais lindo...


... Foi o arco-íris que se formou por trás da paisagem...

sábado, 19 de abril de 2008

Em Salvador

Esse era para ser um post comentando fotos, mas infelizmente as fotos ficaram num computador, e a internet, em outro. Então, passa a ser só um post informativo, e o post com as fotos vem depois, quando eu conseguir conciliar fotos + internet no mesmo lugar.

Estou em Salvador.

Nesse momento, sopra um vento no quintal, balançando as folhas do coqueiro (Que dá muitos cocos cheios de uma água maravilhosa!), e ondulando a água da piscina. Acordei cedo, hoje, corri, nadei, e depois tomei um café da manhã maravilhoso. Fomos a um evento de limpeza de mangue, depois para a Praia do Forte (Projeto TAMAR...), almocei uma mariscada, tomei um sorvete de doce-de-leite. Voltamos pra casa, e vou dormir cedinho.

Se passasse umas semanas aqui, acho que não teria ansiedade que sobrevivesse.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

In vino, veritas

Acabei de chegar em casa de uma degustação de vinhos argentinos, e estou tendo dificuldades de manejar o teclado. Mas queria saber como é a sensação de blogar assim, então entrei aqui (sim, eu sou nerd! E geek, como comprova o selinho à direita, na parte de baixo!).

Lembro da primeira vez em que tomei um porre. Eu tinha acabado de passar no vestibular, e estava em São Paulo - recebi a notícia quando estava no aeroporto, saindo do Rio para Sampa. Era Semana Santa, e eu estava indo para um encontro. Depois que o encontro acabou, ainda na casa de retiro, fizemos uma festinha com o vinho que tinha sobrado. Super vinho de 7 reais a garrafa.

Dois amigos se juntaram para me embebedar, e conseguiram. Tomei praticamente uma garrafa do vinho maravilhoso, e paguei todos os micos possíveis. Saí correndo para ver como era a sensação. Liguei para o meu próprio celular e gravei uma mensagem, pra saber como eu soava quando bebia. Joguei refrigerante num amigo que tentou tirar uma foto minha.

No dia seguinte... Peguei ônibus e avião de ressaca, cheguei no aeroporto em BH e minha família inteira me esperava com faixas e cartazes (eu tinha sido o primeiro lugar no vestibular de Direito da UFMG, e ainda não tinha vindo em casa depois da notícia), me levaram para casa e tinha uma festa me esperando, com direito a banho de champagne e tudo mais. Foi traumático!

Admito que a experiência original me desencorajou, mas nada que o tempo não resolva. E viva o álcool em doses razoáveis.

P.S.: Esse é um post dentro da proposta da Liga dos Blogueiros de Saco Roxo, em especial do blog Papo de Bêbado. Inspirado por um post no Papo de Homem.


Girassol

O que é que eu faço com esse girassol que ganhei? Esse girassol que agora me olha da mesa da sala com seu grande olho?

O que é que eu faço com esse girassol que me invadiu a vida e o desejo? E que roubou-me um beijo, roubou-me o tempo, roubou-me o medo?

Como é que eu entendo o que esse girassol quer de mim, e o que ele espera que eu diga? Qual é a canção que ele canta quando se vira para o sol e deixa que ele o banhe com seus raios?

Um girassol levou meu sossego, e desde então eu me perdi.

Corpo

Benhê, assim não, minha bunda fica horrível!


Outro dia, navegando de bobeira, me deparei com uma matéria, em um site feminino, falando das melhores posições sexuais para esconder determinados "defeitos": bunda grande, seios flácidos, barriguinha saliente, e afins. Havia inclusive ilustrações, e explicações detalhadas.

Ri sozinha, e fiquei pensando no que aquilo significaria. Que nível de incômodo é esse, de desconforto com o próprio corpo? E que falta de intimidade é essa, que faz com que se vá para a cama com alguém de quem se quer ocultar o que se é? E, mais ainda: que burocratização é essa?

Meu corpo não é perfeito. Minha bunda é grande demais, meu nariz é grande demais, meu quadril é muito largo, e eu não me importaria de ter pernas mais compridas. Mas isso é o que sou. O que sou é esse corpo, imperfeito, com celulites e estrias, como imperfeita é a alma que o habita.

Talvez um dia eu me anime a fazer uma plástica (a redução de nariz é especialmente tentadora). Talvez dieta e exercícios melhorem algumas coisas. Mas a essência física, a estrutura, essa não dá para mudar, sob o forte risco de mudar o meu próprio ser.

A verdade é que não é fácil me olhar no espelho, literal ou metaforicamente. Espelho do corpo, espelho da alma, dá sempre um medo danado de ser rejeitada por aquilo que é terrivelmente cheio de falhas. Espelho, espelho meu, haverá quem seja mais imperfeita do que eu?

Acho que não, que somos todos imperfeitos por igual. A diferença está no esforço que se faz para encobrir aquilo que, a um primeiro momento, parece não ser tão bonito - e os artifícios podem incluir não só uma roupa, um jeito de andar, mas, para meu espanto, até mesmo a forma como se transa.

terça-feira, 15 de abril de 2008

O mês de abril

Abril mal começou, e eu já sei que nem vou ver o mês passar.

Meu chefe viajou, e me deu férias até 1º de maio, o que já é um bom indício de que o tempo vai passar loucamente. Quanto mais à toa e feliz a gente está, mais rapidamente passam os dias.

Além disso, vou viajar duas vezes: para Salvador, no feriado de 21 de abril, e para Buenos Aires, na semana logo antes do meu aniversário.

O programa de Salvador tem grandes chances de ser programa de índio, com direito a carteirinha da FUNAI. Casa do papai, com meu irmão de 10 anos e alguns amiguinhos dele. Vou levar uns livros e aproveitar pra estudar na beira da piscina com o iPod no ouvido enquanto os pimpolhos se degladiam digladiam* no videogame (meu irmão é do tipo que prefere um Playstation do que uma piscina linda e um quintal enorme).

Buenos Aires... Bom, também tem lá suas chances de não ser uma maravilha. Vou com a família completa, estilo Férias Frustradas. "A família Leão apronta tremendas confusões em uma viagem muito louca", como diria o locutor da Sessão da Tarde. Estou cruzando os dedos para dar tudo certo. Pelo menos vou ter 5 horas sozinha na cidade, na hora do almoço do dia 28. Acho que vou me comprar algum presente de aniversário (que é dia 29).

Então, voltamos pro Brasil, completo minhas 24 primaveras, e... Acabou o mês! E já é feriado! E só volto a trabalhar depois do feriado!

Não dá pra acreditar em inferno astral.

*Correção do Fernando...

domingo, 13 de abril de 2008

Pouca coisa

(Trilha Sonora: Leoni e Léo Jaime em "Fotografia")



É só uma coisinha pouca. Nem parece que tem importância. Mas a vida da gente vai se construindo assim.

Esse foi um fim-de-semana de coisinhas. Pequenas, bobinhas, mas tantas juntas, e tão encaixadas, que dá até pra acreditar em felicidade.

Na sexta, cinema, comida japonesa, vinho e boa companhia. No sábado, acordar cedo, treino de Jodo na praça JK, café-da-manhã coletivo no dojo. Buscar os cachorros, fazer agility, pegar a estrada (tem coisa melhor que dirigir num fim de tarde vendo o sol se pôr?). Casa da vovó. Sossego, afeto, descanso. Acordar no domingo com os passarinhos cantando e a grama orvalhada, comer bolo, sair para uma corrida com as malucas, ver as duas nadando. Família, almoço, conversa, preguiça. Soninho da tarde. Pegar a estrada de volta, com uma chuva boa na chegada, e ver um arco-íris lindo (LINDO!) no céu.

São as coisas que eu amo, e que me lembram que não é assim tão difícil encontrar o que me faz bem. Hoje à tarde, deitada na varanda da casa dos meus avós, com os dois cachorros dormindo do meu lado, olhando prum céu azul sem nuvens, eu agradeci a Deus (e não sou uma pessoa religiosa, devo dizer) por ter me dado tanto. Que é, ao mesmo tempo, tão pouco.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Minhas malucas

Estou com saudade dos meus cachorros.


Para quem não sabe, minhas duas cadelas labrador (assim, mesmo, em minúsculas, e não pode falar "labradora" - acho que foi o Bruno Tausz que me ensinou isso) moram com meu ex-namorado. Sim, eu sou uma mãe divorciada.


Phoebe (loira e retardada, como sua xará de Friends) e Morgana (pêlo preto como a bruxa de As Brumas de Avalon) são dois bichinhos adoráveis. Dóceis, meigas, alucinadas, e absurdamente apaixonadas por mim. E eu por elas.


Phoebe foi o primeiro projeto de um casal que, na época, tinha todo o futuro pela frente. Eu nunca tinha tido um cachorro, e era doida pra ter um labrador. Fomos a uma feirinha de filhotes, vimos uma filhote de labrador, e eu comecei a chorar porque não podia levá-la para casa. Uns meses depois, ele quis realizar meu sonho - ele mora numa casa com quintal e jardim -, e fomos buscar Phoebe na casa onde ela morava.


Ela era um bichinho espevitado. De acordo com a dona, era a filhote mais espoleta da ninhada. Chegamos, e ela estava equilibrada sobre um skate, que depois começou a morder e chegou a arrancar uns pedaços. Ali, eu soube quem era a Phoebe, e se tivesse juízo, teria desistido do negócio. Ainda bem que o juízo faltou.


Morgana já foi um projeto muito mais pensado. Por causa da Phoebe, fiz muitos amigos, entre eles um dos melhores criadores de labrador do país. E ele me propôs uma co-propriedade numa linda filhota preta. O que mais eu poderia querer? Veio de avião aquele bichinho pequenininho, que parecia de pelúcia, e era o oposto da Phoebe: quietinha, boazinha, meio medrosa.


Afastar-me das duas foi uma das partes mais difíceis de terminar o namoro. Hoje, tenho um acerto com a mãe do meu ex, e passo lá nos fins-de-semana para buscá-las, treinar agility, e passar um tempinho lambendo as crias.


Mas dá uma baita saudade.


quinta-feira, 10 de abril de 2008

Tirinha do dia

Eu já falei que adoro o Caco Galhardo, não falei?





Tirinha da Folha de S. Paulo de hoje. (Link só para assinantes Folha e UOL)

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Cotidianamente, a gente


A gente se maqueia, se penteia, se emboneca, se perfuma, se veste, se olha. A gente sai, o vento levanta os cabelos. A gente se equilibra no salto alto, e quase que a gente se cai. Quase que a gente se esquece de como andar. A gente senta, come, bebe, fala alto, paga a conta. A gente sente uma ponta de vergonha sem saber nem do quê. E uma ponta de orgulho, também.


E aí a gente se perde, se enrosca, se sente, se esconde, se entrelaça os dedos, tudo pra lembrar que a gente vive, que o sangue corre, o sangue quente e pulsante das artérias, e as pernas se movem, os braços se movem, e a gente lembra daquilo que um dia achou que ia esquecer.


Mas se esquece de outras coisas tantas, a gente se esquece da lua lá fora, esquece a chuva, esquece o vento, e nada é em vão. Tudo para a gente ser.


segunda-feira, 7 de abril de 2008

Chuva

Hoje choveu. Aliás, tem chovido, o que sempre me fez feliz. Chuva me lembra bons momentos, alguns dos melhores da minha vida.

Chuva me lembra os meus 14, 15 anos. Eu ia pra academia a pé, e ficava torcendo pra chover na hora de sair. Quando eu dava sorte, ia andando na chuva os 2 ou 3km até a minha casa, e a sensação da chuva sobre o meu corpo ainda aquecido do exercício era um troço sensacional.

(Antes que perguntem: não, nunca peguei uma gripe nessas aventuras!)

Chuva me lembra o churrasco de formatura de 3° ano do Loyola. O campo de futebol, de areia, tinha virado lama, e nós resolvemos jogar futebol. Todo mundo molhado, sujo, naquela confusão, no auge da adolescência, quando as coisas parecem tão complicadas e tão bonitas.

Chuva me lembra as manhãs chegando no campus da UFMG, na FAFICH. Primeiro período na faculdade, uma chuvinha leve e fria, sair do ônibus soltando fumacinha pela boca. Fugir da aula para ir me dependurar nas amoreiras do ICB, comer amora até os dedos ficarem roxos. E nem sujava a roupa!

Chuva me lembra outros tantos tempos felizes. A chuva me lava a alma, me deixa leve, nova em folha, me lembra que estou viva. Talvez por isso, eu nunca tenha gostado de guarda-chuva. Gosto da sensação da chuva na pele, no cabelo, encharcando as roupas, mudando a cara do dia. Quando o céu se fecha, eu abro um sorriso.

Sexta-feira choveu. Muito.

sábado, 5 de abril de 2008

Clichês

Eu sei, eu sei, é clichê. Mas é Chico, que é bom até quando é clichê. Ou melhor: ele nunca é clichê, a gente que transforma em clichê o que ele diz. Que culpa tenho eu se ele consegue resumir tudo em um punhado de versos?

Muita gente me avisou que seria assim, mas era difícil acreditar quando estava doendo tanto: a dor vai passando, e o que se descobre é que, no fim das contas, quem está certo é o Chico.

Porque a dor passa, meio sem perceber. Um dia, procura-se a dor... E ela não está mais lá. Os olhares trocam de rumo, os passos seguem em outra direção. Fica a sensação de que a dor foi inútil, embora se possa ter certeza de que foi essencial. Foi a dor que moveu a mudança.

Se hoje eu me recomeço, reinvento-me, reaprendo-me, é só porque houve dor e perda. Algo deixou de ser. E me fez bem.

Olhos nos Olhos
Chico Buarque

Quando você me deixou, meu bem
Me disse pra ser feliz e passar bem
Quis morrer de ciúme, quase enlouqueci
Mas depois, como era de costume, obedeci

Quando você me quiser rever
Já vai me encontrar refeita, pode crer
Olhos nos olhos
Quero ver o que você faz
Ao sentir que sem você eu passo bem demais

E que venho até remoçando
Me pego cantando, sem mais, nem por quê
Tantas águas rolaram
Quantos homens me amaram
Bem mais e melhor que você

Quando talvez precisar de mim
Cê sabe que a casa é sempre sua, venha sim
Olhos nos olhos
Quero ver o que você diz
Quero ver como suporta me ver tão feliz

Hilda, a louca

Hoje, só Hilda Hilst.

Prelúdios-Intensos para os Desmemoriados do Amor

I

Toma-me. A tua boca de linho sobre a minha boca

Austera. Toma-me AGORA, ANTES

Antes que a carnadura se desfaça em sangue, antes

Da morte, amor, da minha morte, toma-me

Crava a tua mão, respira meu sopro, deglute

Em cadência minha escura agonia.

Tempo do corpo este tempo, da fome

Do de dentro. Corpo se conhecendo, lento,

Um sol de diamante alimentando o ventre,

O leite da tua carne, a minha

Fugidia.

E sobre nós este tempo futuro urdindo

Urdindo a grande teia. Sobre nós a vida

A vida se derramando. Cíclica. Escorrendo.

Te descobres vivo sob um jogo novo.

Te ordenas. E eu deliquescida: amor, amor,

Antes do muro, antes da terra, devo

Devo gritar a minha palavra, uma encantada

Ilharga

Na cálida textura de um rochedo. Devo gritar

Digo para mim mesma. Mas ao teu lado me estendo

Imensa. De púrpura. De prata. De delicadeza.


Porque a Hilda fala tudo, e porque a vida continua.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Mulher no bar

Há muito tempo eu tinha esquecido como é difícil ser uma mulher sozinha num bar.

Fui encontrar um casal de amigos, hoje, no Pingüim. O horário combinado era 18:30, eu cheguei às 18:15 (porque o bendito do bar é pertíssimo do meu escritório, e eu cansei de ficar fazendo hora), meus amigos só chegaram lá às 19:30, por causa do trânsito.

Isso significa, portanto, que passei 1:15 sozinha no bar.

Teoricamente, nada de mais nisso. Sempre freqüentei muitos lugares sozinha, cafés, restaurantes, sem a menor neura. Mas bar é diferente.

Primeiro, porque bar durante o happy hour é um ambiente essencialmente masculino. E não é ambiente masculino no sentido que interessa a nós, mulheres, mas no sentido de Clube do Bolinha legítimo. Um monte de marmanjos sentados em volta da mesa, bebendo cerveja, falando de temas relevantes (futebol, mulher e afins, via de regra), e nem olhando ao redor.

Segundo, porque mulher sozinha em bar, em geral, está só esperando alguém para fazer companhia. Havia vários homens sozinhos, lá, que continuaram sozinhos pelo resto da noite até ir embora. Mas TODAS as mulheres sozinhas estavam esperando alguém (incluindo eu).

Terceiro, porque Belo Horizonte é um diabo de cidade machista, e nem o garçom olha pra gente. Mulher que está sozinha no bar não pode ser boa coisa. Devia estar em casa vendo novela. Os garçons iam até as mesas ao meu redor, mas não olhavam para a minha. Tive quase que puxar um deles pela manga para conseguir uma capivodka.

Acho que vou continuar evitando ir sozinha a bares. Por mais que eu adore ser uma mulher independente, não vejo porque fazer algo que não me dá prazer, só para dizer que eu posso. Na dúvida, vou a um café, tomo um capuccino italiano, um suco de amora com framboesa, entro na livraria e vou me perder. Se quiser beber, abro um vinho em casa.

Mas bar, pelo menos por hora, só mesmo com os amigos.

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Planos malucos

Andei elaborando uma lista de projetos relativamente simples que eu tinha vontade de realizar. Excluí os mais óbvios ("estudar mais e passar num concurso decente"), e excluí também o projeto de criar e manter um blog, acho que nem preciso explicar...

Então:

1. Fazer uma tatuagem. Sim, isso é um sonho antigo, desde os meus 14, 15 anos. Acho tatuagens incrivelmente sexy, e gosto da idéia de ter uma parte da minha personalidade estampada no corpo.

2. Fazer um curso de culinária. Não é que eu não saiba nem fritar um ovo (na verdade, não sei, detesto ovo frito - mas faço uma omelete sensacional!), mas queria aprimorar minhas habilidades na cozinha. Vai que eu sou escolhida pra ir ao BBB?*

3. Aprender a dançar. Um amigo me disse que mulher não precisa de aula para aprender a dançar, é só ir para a pista, e logo aparece algum solícito rapaz para ensinar. Se eu conseguir calçar a cara, vou tentar essa estratégia. Se der vergonha demais, vou procurar um curso, porque eu danço igual um martelo. Sem o cabo.

4. Viajar sozinha para algum lugar lindo no meio do mato. Eu amo mato. Amo, de paixão. Meu ex-namorado biólogo me prometeu no começo do namoro que nós íamos viver acampando. Conhecendo os homens, alguém acha que ele cumpriu a promessa? Pensando bem, pode ser sozinha, mas se tiver alguma companhia MUITO boa, também serve.

5. Correr uma prova de 5km. Eu poderia colocar 10km, mas estou tentando fazer uma lista bem realista, e não acredito que vá conseguir correr 10km tão cedo. 5, se eu continuar treinando, sei que consigo. Todo mundo corre, caras barrigudos correm, mulheres pelancudas correm, minha mãe (sarada) corre! E, afinal, correr é barato, e dá pra fazer a qualquer hora, em qualquer lugar, o que torna a corrida, de certa forma, até melhor que sexo, como exercício. Só de certa forma.

6. Sair mais. Estar namorando um cara meio desanimado acabou fazendo com que a vida toda ficasse meio desanimada. OK, eu não tenho talento para super baladeira, tenho sono cedo, danço mal (ver item 3, acima), não dirijo quando bebo e não bebo quando dirijo, ando super sem grana. Mas, ainda assim, dá pra incrementar a vida social.

7. Fazer um curso de pompoarismo. Ou de pole dance. Ou de striptease. Ou de qualquer coisa dessas da Nelma Penteado, só pela diversão, porque eu preciso rir. E, é claro, quem sabe aprendo algo de útil?

Editado - Atendendo ao pedido da Ana, lá vai:

8. Aprender a mergulhar. Primeiro, aprender a soprar a água do snorkel. Depois, aprender a operar aqueles tubos, cilindros, e a roupa que gruda. Quem sabe eu não conheço algum tubarão simpático?

* Não, eu não pretendo me inscrever no BBB. Não tenho cacife pra sair na capa da Playboy, e nem quero ninguém diminuindo meu nariz e minha celulite no Photoshop.