quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Para Francisco

Ontem fui com a Taissa ao lançamento de "Para Francisco" - o livro inspirado no blog de mesmo nome. Sempre pensei em colocar o Para Francisco no meu blogroll aqui do lado, mas quando lia o título que dei à seção - Maluquices Diversas - acabava chegando à conclusão de que não era bem isso, porque não se trata de mais uma maluquice, mas de uma história de amor. Uma história de gente que ama e sofre, e continua amando ainda mais.

O blog traz a história da Cris Pequena, do Gui, e do (Fran)Cisco. Cris e Gui se amavam, e amavam também aquele cisco de gente que se preparava dentro dela para vir ao mundo. Mas, um dia, o Gui foi embora desse mundo para sempre, para nunca mais, e deixou aqui os dois, Cris e Cisco, meio perdidos. E ela, para poder viver com essa dor, e para poder apresentar ao Francisco o pai que ele não veria, começou a escrever.

Com uma história assim, seria fácil cair na pieguice ou na melancolia, mas não tem nada disso. Os textos são lindos, delicados, cheios de dor, de amor, e de alegria. Alegria pelo que passou e pelo que vem acontecendo. Uma vontade de viver e de amar que chega a assustar a gente que vive meio sem pensar.

A princípio, seria uma história difícil de se identificar. Eu, por exemplo, não tenho filhos, nunca perdi para sempre alguém que amasse muito (além do Gui, a Cris já tinha perdido o pai, a mãe, e avó querida), não senti na pele essa dor. Mas não precisa de nada disso. Basta ser gente, e amar, para se emocionar com o que está escrito ali.

Conheci a Cris ao vivo ontem, e ela é tão linda e delicada quanto o que escreve. Uma fila enooooorme, e ela, lá no final, assinando cada livro, sorrindo, batendo papo, abraçando.

Comecei a ler o livro assim que cheguei em casa, e mesmo já conhecendo boa parte dos textos do blog, chorei de novo como se fosse a primeira vez. Para quem ainda não conhece, o livro é uma boa forma de entrar em contato com essa história, e depois mergulhar no blog, que ela continua escrevendo, sempre com posts lindos.

domingo, 16 de novembro de 2008

Trânsito

Quem me conhece pessoalmente sabe o quanto eu sofro com o trânsito. Não que eu seja ruim de roda - não sou, embora seja bem "pé pesado" -, mas uma série de coisas me incomoda:

1) Aqui em BH, parece que existe uma campanha não-declarada chamada "Seta Zero". O carro da frente anda feito uma lesma, você se prepara para ultrapassar, e de repente, não mais que de repente, ele converge à esquerda, mal dando tempo para você pisar no freio. Quando se é pedestre, é pior ainda, porque você nunca sabe exatamente o que o carro na via transversal vai fazer. Chega a ser um cara-ou-coroa, você sempre tem 50% de chances de ser atropelada se atravessar naquele momento. Para os belorizontinos, seta é um opcional que, se pudessem, eles não escolheriam no momento da compra do carro.

2) Gente lerda na pista da esquerda. Isso era um problema carioca clássico, mas virou também um problema beaguense. Não tenho nada contra lerdos, mas que eles permaneçam na linda pista da direita, que é especialmente reservada para eles. A pista da esquerda é de quem quer andar. Isso, é claro, não vale para a Inglaterra e alguns outros países, mas realmente não conheço muitos imigrantes londrinos por aqui. Aliás, isso acaba gerando o hábito de ultrapassar pela direita, e a pista da direita, em geral, é a mais vazia, e a que mais anda. Só falta colocarmos agora um aviso de "Look Right" nas travessias de pedestre, e já dá pra implementar a mão inglesa.

3) Estacionamento em fila dupla. Mais ainda em avenidas movimentadas, ou ruas que ligam essas avenidas. Existem algumas ruas que eu já apelidei de trechos de rally. São três pistas, mas em geral só uma está disponível para o trânsito normal, porque nas outras duas há carros com o pisca-alerta ligado, em fila dupla. Pisca-alerta é uma maravilha, faz o carro ficar invisível, insípido, inodoro e imune às regras de trânsito.

4) Carros andando em duas pistas. É a famosa "síndrome de Autorama". O pessoal cresceu brincando de Autorama, e aprendeu que o carrinho tem que andar em cima da linha, não entre as duas linhas. Haja auto-escola para desaprender lições tão precoces. Outra opção é que eles talvez estejam pagando alíquota dobrada do IPVA, o que dá a eles o direito de ocupar o espaço de dois carros. Curiosamente, em geral estão dirigindo devagarinho, de forma a deixar o motorista logo atrás muito feliz por não poder ultrapassá-los.

5) Falar ao celular no trânsito. Sou obrigada a fazer um "mea culpa", aqui, e admitir que de vez em quando faço isso. Mas agora tenho um super equipamento de viva-voz instalado no carro, o que me redime. Além de ser super perigoso tentar dirigir com a cabeça inclinada para o lado, equilibrando o telefone com o ombro (e péssimo para a postura!), ou com uma mão segurando o bichinho, é também terrivelmente irritante. As pessoas falando no celular são as que mais costumam praticar todas as outras coisas irritantes anteriormente mencionadas - afinal, como dar seta com uma mão no volante E no câmbio, e outra segurando o celular?

6) Motoqueiros. Digam o que quiserem, que eles são essenciais à vida moderna, que estão só trabalhando, mas eu ODEIO motoqueiros. Eles saem costurando entre os carros, entram na sua frente, e, quando o sinal abre, estão tão ocupados olhando alguma coisa na moto, ou uma mocinha bonita passando na calçada, que não arrancam. E tente buzinar para ver, ele começa a andar lentamente, no meio da pista. Isso quando não praticamente arrancam o retrovisor do carro, arranham a pintura, fazem super cortadas pela direita e ainda reclamam se você tinha a inocente idéia de fazer uma conversão (e tinha até dado seta!). Depois, um deles cai, e a culpa é do carro. E ainda querem indenização pelos dias parados. Que me perdoem os (eventuais, raros, e, para mim, desconhecidos) bons motoqueiros por aí, mas a média da raça é lastimável.

É claro que essas são só as coisas mais irritantes. Além delas, tem o pessoal que não arranca quando o sinal abre, a turma que quase estaciona o carro para fazer uma conversão (ou que invade a outra pista, num claro sintoma de "síndrome de Scania", muito comum em carros Fiat Uno e Ford Ka), a galerinha indecisa que dá seta para um lado e vai para o outro, os insuportáveis que grudam na sua bunda quando você dá seta e sinaliza que vai fazer uma baliza (rima involuntária), os "mano" que têm um som automotivo que vale mais que o carro e dirigem escutando funk no último volume, os pedestres que esperam o sinal ficar verde para atravessar...

No fundo, o que me irrita no trânsito é o que me irrita com os vizinhos: o incômodo gerado pela convivência forçada, por essa dependência em relação à boa-educação alheia, que em geral é falha. E nem adianta pegar ônibus, a coisa fica pior ainda. O melhor é respirar fundo, colocar uma musiquinha agradável, fazer lições de meditação zen, e assimilar que a tendência é que o buraco fique cada vez mais fundo. Como diria a Marta, tem que relaxar e gozar - será que com um insufilme mais escuro tem jeito?

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Ética

Nos últimos tempos, de várias formas, me vi pressionada a pensar sobre a ética - o que ela significa, e como aplicá-la no cotidiano. Um episódio pessoal na vida do Nando, um belo texto da Babi, e eis-me aqui escrevendo sobre o tema.

Adoto aqui ética e moral como sinônimos, embora saiba que, conceitualmente, existem diferenças - a grosso modo, a moral seria o conjunto de normas de conduta aplicáveis em determinadas circunstâncias geográficas e históricas, enquanto a ética seria o aspecto científico, o estudo dessas normas de conduta.

Para Aristóteles, no seu Ética a Nicômaco, a ética é entendida como a busca da felicidade - não a felicidade hedonista dos tempos atuais, mas a eudaimonia, a felicidade de se fazer o que é certo e o que é bom, conciliando os interesses do indivíduo com os interesses coletivos. Para ele, a excelência moral estaria em adotar, praticando atos que reiteradamente o revelem, o meio-termo entre as disposiçõs morais extremas: a coragem, entre a covardia e a temeridade; a moderação, entre a insensibilidade e a concupiscência, e assim em tudo o mais.

De fato, uma das características essenciais da moral é o seu aspecto social. Só existem normais morais porque convivemos, porque constituímos sociedades e precisamos de regras que nos permitam viver bem.E é difícil pensar nesse "bem" como sendo algo muito distante do que Aristóteles defendia.

Vivemos numa circunstância histórica (século XXI d.C.) e geográfica (República Federativa do Brasil, Estado soberano da América do Sul) em que as normas morais parecem ter diminuído de valor. Ou, ainda, parecem ter-se relativizado. Pode-se dizer que a moral seja, sim, relativa, se pensarmos que ela se altera de acordo com as circunstâncias. Mas, mantidas as tais circunstâncias, e devidamente delimitadas, a relativização dos valores passa a ser perigosa.

Quando o declínio dos valores se passa num plano amplo, parece óbvio a todos que se trata de algo "errado" ou "ruim". É errado que um político desvie dinheiro público, é errado que um bandido seja solto por conveniências particulares dos poderosos, é errado que os projetos pessoais de poder se assenhorem daquilo que é, por natureza, de todos, é errado que o marido traia a mulher, é errado que a filha mate os pais, ou que os pais matem os filhos. Tudo isso é preto no branco, sem nuances de cinza, a princípio.

Mas é no cotidiano que se percebe o risco maior. É na forma como as relações se deterioram no plano mais restrito, na esfera da intimidade, que percebemos o prejuízo que a perda dos valores éticos traz para cada um. É a pessoa que fura uma longa fila, é o cafezinho do guarda, é o "jeitinho" que se dá num órgão público para obter mais rapidamente determinados benefícios, é o troco recebido a mais e nunca devolvido, é o som alto madrugada adentro, são os pequenos desrespeitos nossos de cada dia.

O que se reflete aí, sempre, é a prevalência do interesse privado sobre o coletivo. É o tempo do "eu". A ética vigente é a ética de Gerson, o clássico "gosto de levar vantagem", e que se reflete inclusive sobre as relações afetivas. Quantas pessoas não adotam, hoje, a postura do prazer desmesurado, sem a menor consideração pelo outro, por suas necessidades e sentimentos?

Se cada um prioriza apenas o que é seu, apenas seus interesses e suas pulsões, vamos retomando aos poucos a selvageria. Se é preciso defender com unhas e dentes o que é meu, acaba prevalecendo a lei do mais forte. Junte-se a isso um Estado fraco, que falha em impor suas normas jurídicas (não, não vou ficar aqui distinguindo a norma jurídica da norma moral), e uma cultura em que o mais esperto é visto como herói, e temos a anomia de que falava Durkheim. Se não temos normas morais pelas quais nos pautar, acabamos por viver à deriva.

É em grande parte por isso que as igrejas, com suas normas rígidas de conduta, venham angariando tantos adeptos. O fato é que sentimos falta de ter um norteamento claro de nossas ações. Acabam prevalecendo os valores familiares, mas sendo cada família um núcleo muito específico, a tendência é que esses valores sejam excessivamente discrepantes.

Tudo isso para dizer, apenas, que há momentos em que é preciso nos agarrar aos nossos valores mais firmes, às nossas convicções mais profundas, para evitar perder o sentido de tudo. Algo precisa resistir ao caos, e se não há uma moral heterônoma, é preciso que ela brote, autonomamente, do nosso próprio sentimento do mundo. Quando releio Aristóteles, percebo que aquilo que ele dizia, quatro séculos antes de Cristo, ainda hoje pode ser considerado uma conduta ética. Talvez a moral não seja tão relativa quanto alguns gostariam que fosse.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Rapidinhas

E de volta à programação normal, depois do frio e tenebroso inverno sem posts...

- Finalmente assisti "De Olhos Bem Fechados", o canto do cisne do Stanley Kubrick, com o ex-casal Tom Cruise e Nicole Kidman. Não sei se foi influência do livro "Os Filmes que Vi com Freud" (que eu adoro!), mas fiquei achando aquilo tudo um belo delírio psicótico do protagonista. Sei lá, alucinação pós-baseado, no mínimo. Delírio persecutório, com direito a ritual secreto e fantasias eróticas. E a atuação da Nicole Kidman é forçada, pra dizer o mínimo. Se eu fosse o bonequinho do Globo:
- Mamãe foi para a Europa e voltou (cheia de presentes), depois de 12 dias. Nunca imaginei que mãe fizesse tanta falta, mesmo depois que a gente vira adulta. Amei as coisinhas que ela trouxe, em especial as minhas encomendas da Lush, que não existe mais no Brasil. Gente, os cheiros daqueles produtos são simplesmente maravilhosos, não tem igual! E tudo cruelty-free, feito com produtos naturebíssimos. Eu sei, a Europa é longe, mas tem Lush no Chile, também...


- Fui assistir Aída no Palácio das Artes, dia 29. Visualmente, é lindo, o cenário é maravilhoso. A soprano que fez a protagonista também é um deslumbramento. A cena da Marcha Triunfal é de encher os olhos e os ouvidos. Já assisti outras óperas, adoro, sempre que tem alguma montagem interessante, procuro ir ver. Mas 4 horas seguidas assistindo uma ópera, das 20h à meia-noite, em plena quarta-feira, é cansativo demais. Ainda mais considerando que nem todos os solistas eram tão bons, e que algumas cenas (como a Consagração das Armas) são terrivelmente lentas. Enfim, bom, mas é preciso ir com a alma preparada....


- Cachorros tiveram tosse dos canis. Dá uma baita dó ver as bichinhas tossindo. Pegaram de uma cadelinha no agility, e admito que fiquei com muita raiva quando vi que tinham levado uma cadela doente para ficar no meio da cachorrada. Enfim, pelo menos as duas malucas estão medicadas, e passando bem.

E a vida segue. Vou tentar não ficar mais um mês sem posts...