quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Nostalgia de Natal

Natal é o tempo da nostalgia por excelência. O reino do passado.

Natal de adulto é sinônimo de excessos: nos gastos, no consumo de calorias e bebidas alcoolicas, no calor das discussões familiares. É antecedido por uma semana de stress e trânsito ruim, e seguido pela ressaca e pelo vazio. Mas não há grande prazer nessa orgia, e nem mesmo nos presentes - muitas vezes dados por obrigação e recebidos com desdém, despidos de sua função precípua de encantar e fortalecer laços.

Submetemo-nos, porém, às tradições, vagando por elas como zumbis, porque temos sempre a esperança de resgatar o Natal que já tivemos, que é o lugar da infância. Pertence à infância o prazer com a árvore enfeitada, com a guirlanda pendurada na porta. A antecipação, a ansiedade sem obrigações a cumprir. A noite mágica de guloseimas inéditas, os presentes longamente desejados, a fantasia do Papai Noel.

Anos se passam sem que consigamos reaver essa sensação, e ainda assim, persistimos. A eterna busca dos prazeres da infância, simbolizada num peru assado, e num velhinho suando sob uma roupa vermelha nas luzes incômodas do shopping center.

Talvez fosse muito mais simples reencontrar esses prazeres se, ao invés de repetir o ritual, seguindo os passos da infância, buscássemos aquilo que efetivamente nos alegrava: o encantamento. O momento de estar em família, de receber afeto, de nos sentir queridos, de sentir que o mundo era um lugar especial.

Vamos crescendo, e nos desencantamos, e em vão pensamos que repetindo a infância, nos resgataremos. Mas o que resgata de verdade é buscar outras formas de se encantar, é encontrar nas pessoas que amamos, nas experiências que vivemos, motivos para acreditar que a vida é, sim, especial - louca, cheia de boas surpresas, difícil, imprevisível, surpreeendente.

Que as tradições possam deixar de ser reencenações vazias, para se tornarem um bom pretexto para buscarmos o que nos encanta, e para que nos deixemos encantar novamente, a cada instante. Essa é a magia do Natal.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Metamorfoses

Chega uma hora em que finalmente a infância fica para trás, junto com um punhadinho de ilusões que ainda restava.

Uma hora em que é preciso enfrentar o medo do desconhecido, o medo do fracasso, o medo da morte, o medo da solidão, e fazer o que precisa ser feito.

Hora em que se aprende a perder, e que se descobre que esse aprendizado é, de fato, a maior das liberdades.

Em que se percebe que é preciso fazer as escolhas mais duras, e abandonar de vez as adolescências, as crises, as procrastinações.

Que a vida é tosca, mesmo, que as cenas não são de filme, os romances não são heroicos, os dramas não são plenos, e a comédia pastelão está sempre prestes a começar.

O humor é fundamental, a leveza é a chave da sanidade, responsabilidade não é fardo, crescer é aprender a carregar sem reclamar a bagagem que se recebeu.

2009, na prateleira, difícil como foi, sofrido como foi, fica guardado como o ano em que virei gente grande de vez. E nem estou achando tão ruim.

domingo, 29 de novembro de 2009

Resoluções de Ano Velho


Antes que esse ano acabe, antes que chegue o Natal, trazendo o fast-forward dos últimos dias, ainda há tempo de resolver. Detesto resoluções de Ano Novo e promessas de mudança na segunda-feira, condicionando a força de vontade a um arbitrário "começo" do calendário. O que é que impede de trocar de emprego na quinta-feira, de fazer regime no sábado, de parar de fumar em outubro?

Entendo que sejamos dominados pelo simbólico. Balizamos nossas vidas por rituais. Amamos os números redondos. Buscamos as coincidências, os padrões, temos imensa dificuldade com a aleatoridade. Queremos que o primeiro dia do ano seja o primeiro dia do "resto de nossas vidas".

Mas, para isso, acabamos postergando decisões que seriam úteis hoje. Deixamos para um outro dia mais mágico, uma ocasião especial, o momento adequado da conjunção dos astros. Não queremos que algo comece num dia comum. Como se algum dia fosse mais do que comum, embora destacado por quaisquer forças externas - o Papa Gregório, o Presidente da República, as contrações do parto.

Por isso, defendo que adotemos as resoluções de ano velho. É essencial que sejam tomadas num dia qualquer - pode ser inclusive uma segunda-feira, desde que ser segunda-feira não seja essencial à escolha. É importante também que não sejam tomadas todas uma vez: alguma invariavelmente ficará pelo caminho, senão todas. Cada resolução deve ser tomada em seu tempo próprio, não importando nem mesmo que ocorram em anos diferentes.

Torná-las públicas é opcional, mas, para o bem da sanidade mental de cada um, recomendo mantê-las para si. Resoluções mantidas por força de cobrança externa acabam se tornando fardos. É recomendável, ainda, anotá-las em algum lugar, de forma a permitir que, eventualmente, sejam recordadas ou abandonadas de forma definitiva e oficial. É preciso coragem para olhar uma resolução no olho e deixá-la para trás, embora mesmo isso possa ser libertador.

Aliás, nem peço perdão aos covardes: coragem é fundamental para quem pretende fazer resoluções de qualquer tipo. É preciso assumir o risco de descumpri-las e lidar com a própria fraqueza, ou o pior risco ainda, o de realizá-las, e ter que encarar que os problemas que antes eram muletas não são mais. É bom começar abandonando a primeira, e deixando o calendário para lá.

domingo, 15 de novembro de 2009

Ele Acaba

É de Paulo Mendes Campos o texto que dá nome a este blog, e mais uma vez me vejo tentada a recorrer às palavras dele, que escreveu uma linda e sofrida crônica chamada "O Amor Acaba", em que diz:
"O amor acaba. Numa esquina, por exemplo, num domingo de lua nova, depois de teatro e silêncio; acaba em cafés engordurados, diferentes dos parques de ouro onde começou a pulsar; de repente, ao meio do cigarro que ele atira de raiva contra um automóvel ou que ela esmaga no cinzeiro repleto, polvilhando de cinzas o escarlate das unhas; na acidez da aurora tropical, depois duma noite votada à alegria póstuma, que não veio; e acaba o amor no desenlace das mãos no cinema, como tentáculos saciados, e elas se movimentam no escuro como dois polvos de solidão; como se as mãos soubessem antes que o amor tinha acabado;"

Fato é que o amor acaba. Acaba nas pequenas agressões do cotidiano, e nas grandes agressões inesperadas. Acaba no desencanto e na indelicadeza, porque o amor é coisa frágil, cristal. Acaba no desencontro, no descompasso, acaba nas horas mortas da madrugada, acaba no susto, no medo, na submissão.

Deixa em seu lugar um incômodo que é mais que dor. É vazio e escuro, um buraco - não no peito, mas no estômago, como uma úlcera, roendo por dentro, queimando. Um desejo de posição fetal e imobilidade morna. É o desalento.

E quando o amor não acaba, mas é vencido pelas circunstâncias, então é preciso matá-lo, lentamente, com doses diárias de algum veneno insidioso. O amor não morre com balas de prata, nem com estaca no peito, há que se ter paciência e constância para sufocá-lo (como para mantê-lo, diga-se).

Com essa morte, vem o sofrimento da absoluta necessidade de alienar o outro: transformar em estranho e distante aquilo que antes era proximidade, conforto e a mais completa intimidade. Converter a comunhão de corpos e almas em polidez tépida, e seguir como se não fosse habitada por um vulcão.

Por fim, dificultando tudo, é preciso elaborar o luto - aceitar a perda, a morte do outro em mim, e de mim nele - para poder sobreviver. E sobrevivemos, todos, com exceção daqueles que, se não morressem de amor, morreriam de tédio.

Então, é de novo o meu amigo (pena que nunca pudemos sentar numa mesa de boteco) Paulo que conclui:

"...em todos os lugares o amor acaba; a qualquer hora o amor acaba; por qualquer motivo o amor acaba; para recomeçar em todos os lugares e a qualquer minuto o amor acaba."
Porque o amor não acaba de verdade - sempre há amor em nós, que vivemos de amar e ser amados, e sem isso, nada somos.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

“Guinada 360º”

degrees-360

Estou me sentindo exatamente como o título desse post: depois de tanto girar, continuo no mesmo lugar.

A análise vai bem. Pelo menos, já consegui diminuir meus instintos assassinos no trânsito, o que contribuiu para melhorar muito meu humor, em geral. Mas ainda não consegui progresso nos meus bloqueios de carreira, na minha inércia, e num bocado de conflitos e sintomas que estão por aí. Sim, eu sou ansiosa, embora saiba que esse tipo de coisa não se resolve de um dia para o outro.

Falando em carreira, fiz o concurso de Procurador do BACEN. Estudei? Claro que não. Por consequência óbvia, tomei uma ferrada sem tamanho. Menos de 50% da prova (tava difícil, mas pô… Nem 50?!).

Fui muito mal-acostumada, porque me saí bem durante toda a vida acadêmica praticamente sem esforço. Ia às aulas, e até fazia exercícios que o professor mandava, mas estudava só na véspera da prova, e ainda ficava entre os melhores alunos. Foi assim no colégio todo, foi assim que passei no vestibular, foi assim na faculdade, foi assim no Exame da Ordem. Mas aí empaquei, porque concurso, hoje em dia, não é uma disputinha qualquer. Não dá pra levar “no sapatinho” (#gíriadécadade90).

No fundo, ainda fico achando que vou conseguir passar só com meus belos olhos, sem ralar como todo o resto das pessoas. Como se eu fosse assim muito especial, ungida, uma mente privilegiada e inigualável. Só que, por razões óbvias, não tá dando certo.

Estou com 2 anos e meio de formada – colei grau, oficialmente, em fevereiro de 2007 – e continuo presa num emprego de meio período que paga proporcionalmente a isso, sem conseguir sobreviver da minha profissão, sem coragem para largar e ir fazer outra coisa (embora vá dar um seminário de adestramento em novembro), morando na casa de mamãe e longe dos cachorros, sem poder nem ir ao cinema por falta de grana.

Girei 360º. Agora preciso, pelo menos, conseguir andar para frente em linha reta.

terça-feira, 30 de junho de 2009

Psi..o quê? Ou: no divã (que não é o filme)

Como disse antes, voltei para a análise, e talvez seja por isso que ande postando pouco. As ideias estão desorganizadas demais.

Quando comento que frequento o psicanalista, muita gente fica curiosa, quer saber mais, até porque existe um certo misticismo rondando a psicanálise, fomentado por filmes, livros e comentários debochados em geral.

 Freud, o próprio

“Algumas vezes um charuto é apenas um charuto”

(Para ver uma boa representação das fantasias que se nutre acerca do psicanalista, vale a pena assistir ao curta feito por Steven Soderbergh no filme Eros. O filme teve uma péssima recepção pela crítica, em grande parte, por não ter atingido suas pretensões, em se tratando de três diretores consagrados, sendo Antonioni considerado um gênio do cinema. Mas é bom, ainda assim.)

Não sou uma especialista em psicanálise, meu estudo sobre o tema se resume a uns dois ou três livros de Freud, mas já tenho um bocado de milhagem de divã. Então, acabo tendo minhas próprias maneiras de explicar o processo aos curiosos.

O famigerado divã, em Londres

Algo que sempre digo a respeito da psicanálise é que começar a frequentar o analista é como começar a arrumar um armário: é preciso desarrumar tudo, para tentar reorganizar depois. A fase inicial da análise é muito difícil, a família e os amigos reclamam, a gente mesma fica se sentindo meio fora de lugar. Mas, aos poucos, como acontece com o armário, as coisas vão se encaixando aqui e ali, e o desespero com a bagunça diminui (embora a bagunça em si possa levar muuuito tempo para melhorar).

Um mito comum que é bom esclarecer: analista não resolve problema. Analista não dá conselho. Não adianta ir até lá achando que vai ser como uma maquininha de refrigerante, em que você insere a moedinha, aperta o botãozinho com a descrição do seu problema, e a latinha com a solução cai pelo buraco.

Deita aqui pra você ver...Rapadura é doce, mas não é mole, não!

Análise dá trabalho para o analisando. O analista vai conduzindo, provocando, sugerindo, mas ele não chega às conclusões por ninguém. Cada um precisa elaborar suas próprias questões, trazer à tona os conflitos que estão ocultos, e mastigá-los bem. Ruminá-los na busca do tão procurado insight, o orgasmo da análise, o momento em que, usando a metáfora do armário, uma caixa acha seu lugarzinho na prateleira adequada – e que nem sempre é aquela onde se queria inicialmente colocá-la.

Lacan, que complicou tudoNo meu caso específico, meu analista é lacaniano, e usa a técnica do tempo lógico: a sessão não tem duração fixa, e termina no momento… lógico – ou seja, no momento em que o analista percebe que algo importante foi dito, que alguma conclusão importante foi atingida. Isso significa que já tive sessão de 15 minutos, de meia hora, de 45 minutos, e devem continuar variando. Analistas freudianos, por outro lado, têm sessões com duração fixa, o que algumas vezes implica silêncios intermináveis e constrangedores – o que também tem seu lado interessante.

O objetivo disso tudo? Tentar diminuir a angústia, encontrar o próprio desejo, dar voz a ele, e enxergar os problemas apenas do tamanho que eles realmente sejam, ou o mais próximo possível. E ainda parece pouco. Não é à toa que dizem que só maluco faz análise.     

A complicação em si

terça-feira, 26 de maio de 2009

Escuridão

Houve um tempo em que conheci a angústia.
Devia ter uns 15 anos.
Eu dizia que ela era o ponto negro dentro de mim
onde a luz não chegava.
Pensava que um dia ia passar.
Hoje, eu e ela descobrimos novas formas
de nos amar.





segunda-feira, 18 de maio de 2009

Alguns fatos

Primeiro: sim, fiquei um bom tempo sem postar. Acontece, eu acho, principalmente quando a vida vai atropelando, e quando todo e qualquer assunto acaba parecendo besta e meio repetitivo. Tenho lido vários blogs, muitas opiniões interessantes, muitas visões de mundo diferentes, numa tentativa de sair da minha zona de conforto.

Segundo: não aguento mais viver na zona de conforto. Entrei em rota de colisão comigo mesma. Então, na sexta-feira, fui fazer a entrevista preliminar com um novo analista. Sim, voltei para a análise, recomeço amanhã, terça-feira. Meu analista me recebeu usando gravata de crochê e colete. Há um vaso de cactus no meio do consultório dele, algumas lembranças de viagens, um sofá confortável, um divã (dããããã!) e um MacBook. E ele é lacaniano, o que significa que, ao longo da análise, eu provavelmente terei algumas sessões de 5 minutos - "vamos ficar por aí, hoje" - o chamado tempo lógico. Ou, como ele disse, "não é lógico parar quando chegamos em alguma coisa importante, ao invés de mudar de assunto?"

Terceiro: há 10 dias, morreu um amigo meu da faculdade. Tinha a minha idade, 25 anos, e passou 40 dias internado com leishmaniose visceral. Ao final, foi vencido pela doença, pelos remédios, e, especula-se, por uma infecção hospitalar. Não é para canonizar ninguém depois da morte, mas ele era realmente um cara bacana, sempre de bom humor, com um sorriso enorme na cara, prestativo, atencioso, inteligente, bonito. Como é que se aceita uma fatalidade assim?

Quarto: em 29 de abril, completei 25 anos, fechando a significativa marca aleatória de um quarto de século. Continuam válidas quase todas as reflexões que fiz sobre os 24, o que, aliás, é uma das razões para eu ter voltado para a análise. Sim, eu ainda sou jovem, mas não quero esperar até estar velha para tomar providências - mineira que é mineira não perde o trem. 

Quinto: continuo correndo. Do quê, e para onde? Não sei, mas vou seguindo...


quinta-feira, 26 de março de 2009

O Grande Irmão está entre nós


Um dos livros que mais me marcou até hoje foi 1984, de George Orwell. Não é um livro grande - ou, pelo menos, não era, na edição de bolso que li - nem de leitura muito difícil. Pelo contrário, a história é envolvente, um thriller psicológico cheio de mistérios, que se passa num mundo futuro, pela época em que Orwell o escreveu (fim da década de 40): o ano de 1984.

O futuro concebido por Orwell é negro, e por isso 1984 é considerado uma distopia, juntamente com outros livros como Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley. Nele, o mundo é dominado por governos totalitários que vivem em guerra, a sociedade é dividida em classes rígidas, e o patrulhamento ideológico é constante. As câmeras estão por toda a parte, as crianças são ensinadas desde pequenas a observar os pais e delatá-los para a "Polícia do Pensamento", colegas de trabalho, marido e mulher, todos são espiões em potencial.

As pessoas são lembradas, o tempo todo, de que "O Grande Irmão está observando" - o tal Grande Irmão é o líder supremo da Oceania, o continente que passa a englobar a Europa e parte da Ásia.

(Aliás, como todos sabem, foi desse Grande Irmão, o Big Brother, no original, que se originou o título do sensacional, espetacular e popular reality show.)

Fiz toda essa volta apenas para comentar que estão instalando câmeras de segurança no meu prédio. Na entrada, nos elevadores, e em toda a garagem - agora, há uma câmera virada diretamente para o meu carro.

A idéia me incomodou desde o princípio. Alegadamente, a motivação foram depredações pontuais ocorridas, em especial durante festas - um espelho do elevador quebrado, portas arranhadas, danos do gênero - e, é claro, questões de segurança. Devo frisar que moro aqui há 10 anos e nunca houve sequer tentativa de assalto. A garagem não tem aceso para a rua (fica a uns 10 metros de altura), e a única entrada são os portões, entre os quais está a cabine do porteiro.

O fato é que, na prática, muito pouco será ganho com a instalação das câmeras. Os episódios de depredação já haviam cessado depois que foram criadas regras mais rígidas para a realização de festas. E os assaltos continuam virtualmente inexistentes.

Em compensação, a privacidade vai para o beleléu. Sempre gostei de cantar no elevador, fazer careta para o espelho, ou mesmo de arrumar um sutiã fora do lugar, ajeitar a saia. Como fazer isso pensando que o porteiro pode estar olhando, e que tudo estará gravado?

Vá lá, elevador não é espaço privado propriamente dito, nem posso reclamar. Mas o meu carro!? Quantas vezes já não desci de casa com um nó na garganta, para desabar dentro do carro e não precisar dar explicações à minha mãe? Quantas vezes já fiquei no carro ouvindo música, bem alto, sem precisar incomodar ninguém, sozinha com os meus pensamentos, cantando junto a plenos pulmões? E aí?

Aos poucos, vão se reduzindo os espaços em que podemos ser livres. A câmera inibe. Sem dúvida, inibe os assaltos, inibe as condutas ilícitas, e etcetera e tal. Mas, na maior parte do tempo, inibe as simples manifestações de individualidade, aquelas coisas que, como diz a música (eu odeio Capital Inicial, mas a idéia é boa), "você faz quando ninguém te vê fazendo". Ou, no mínimo, quando ninguém te grava fazendo.

Quando a segurança vira paranóia, as primeiras a irem para o beleléu são as liberdades individuais.

* Coincidências aleatórias: eu nasci em abril de 1984. A história do livro se inicia em abril de 1984.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Carnaval Offline

Com o burro na sombra

Na sexta-feira, coloquei um aviso no meu Orkut: "OFFLINE por todo o Carnaval". E a verdade é que não estive apenas fora do Orkut, mas completamente offline: sem celular, sem computador, sem nada. Contato com a civilização? Um único orelhão, sempre com fila, ao lado de uma igrejinha e de uns dois ou três botecos. E isso a menos de 3h de BH, no lugarzinho onde eu e o Nando nos enterramos nesse feriado - Lapinha da Serra, um vilarejo que integra o Circuito Turístico da Serra do Cipó.

Para chegar à Lapinha, são cerca de 90km de asfalto, passando por Lagoa Santa, e depois mais 42km de estrada de terra. É um bocado de chão, mas vale a pena, porque a própria estrada já é um passeio - agora, na época das chuvas, o vermelho intenso da terra contrasta com todas as gamas de verde de uma vegetação de cerrado incrivelmente exuberante. Lindo, lindo, lindo.


O mais impressionante é que o lugar é simplesmente um aglomerado de belezas naturais para onde quer que se olhe. Montanhas, cachoeiras, rio, lago, flores, árvores, é até difícil encontrar um enquadramento de foto que não seja de babar. E o que não falta na Lapinha são atrações nos mais diversos níveis de dificuldade para quem gosta de trekking e escalada.



Foram cinco dias de caminhadas, subidas, mergulhos, comida mineira caseira (recomendadíssimo o restaurante Moendas, comandado pela Rosângela e seu tempero maravilhoso), cochilos depois do almoço, longas tardes tocando violão, batendo papo com os vizinhos de pousada, ou simplesmente deixando o tempo passar.

Namorado forte, namorada desprevenida!

Lapinha é cheia de gente alternativa, uns hippies desgarrados, naturebas em geral, aventureiros, além, é claro, na época do Carnaval, da turma que só quer beber e farrear. Infelizmente, essa turma ia para as cachoeiras e deixava um rastro de lixo, latinhas de cerveja, garrafas plásticas.

Aliás, esse é um dos grandes problemas ali, atualmente: a depredação. Vimos motocicletas pasando por trilhas em que isso é proibido, lixo de todo tipo jogado até mesmo em lugares de difícil acesso, água poluída. Já há diversas iniciativas locais para buscar mais fiscalização, e espero que eles tenham sucesso em minimizar o impacto.

Até alguns anos atrás, nem pousada havia em Lapinha, e era preciso acampar. Hoje, com o crescimento do turismo, já são várias pousadas, além de diversos estabelecimentos - a maior parte bem charmoso e adequado ao clima do lugar. Ficamos na pousada O Pico do Cipó, e adoramos o lugar, tanto pelas instalações, quanto pela simpatia do Paulo e de sua família.

O nome desse lugar, acreditem: Paraíso.

Na noite de terça, para despedir, uma "jam session" improvisada no barzinho natureba da Sandra (caldo de mandioca com alho-poró, aceitam?), com direito a bandolim, percussão de tudo quanto é tipo, e um sambinha bem animado.


Fomos embora na quarta já fazendo planos de voltar para ir aos lugares que ainda não conhecemos.

Depois de um Carnaval desses, o ano pode até começar.

O paredão da Lapinha, no dia em que chegamos

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Vida Saudável

Além do meu óbvio sumiço de blogs, Orkut e afins nos últimos tempos, andei mudando mais algumas coisas na minha vida. Nada a ver com resolução de ano novo - até porque isso tudo veio acontecendo ao longo do ano passado, culminando no período logo antes das festas. O fato é que estou levando uma vida absolutamente saudável, como nunca imaginei que conseguiria.

É bom que eu esclareça algumas coisas. Primeiro, nunca fui vaidosa. Até o meio da minha adolescência, lá pelos 15-16 anos, eu mal me preocupava em lavar cabelo. Usava calças largas de skatista (e não, nunca andei de skate, e me acho incapaz de me equilibrar em cima daquilo), camisetas folgadas, tênis. Minha mãe escolhia meu shampoo, e tentava me convencer a me arrumar um tiquinho. Fazer as unhas? Usar um hidratante? Passar maquiagem? Quando muito, na hora de ir às festas de 15 anos, e olhe lá. Só fui melhorar depois da faculdade, e mesmo assim, sem muita convicção.

Segundo, sempre fui boa de garfo. A típica pessoa que come bem e não tem medo de comer. Picanha, feijoada, lasanha, torta de chocolate, sorvete, colocou no prato, eu como. Amo comida. (Embora, por outro lado, isso inclua também as saladas: sou v-i-c-i-a-d-a em salada, amo agrião, alface americana, tomate maçã, e tudo só com limão ou azeite e um tiquinho de sal.)

Terceiro, eu não sou, por natureza, uma pessoa disciplinada. Meu quarto é uma bagunça, sempre esqueço de tirar extrato semanal no banco, nunca sei quanto dinheiro tem na conta (mas não, não entro no cheque especial, e odeio pagar qualquer tipo de juros), nem sempre ligo nos aniversários dos amigos, fico em casa pra estudar e entro no Orkut, procrastino.

Enfim. A despeito de tudo isso, a vida que eu vinha levando começou a me incomodar no começo do ano passado. Maus hábitos alimentares, gordura sobrando por todos os lados, calças apertadas, auto-estima no dedão do pé, falta de fôlego até pros treinos de aikido. Comecei com a corrida, logo no comecinho do ano. Timidamente, nem sempre conseguindo correr duas vezes por semana, mas tomando gosto pela coisa.

Depois, veio o término de namoro, que significou uma perda rápida e drástica de peso, algo em torno de uns 2 ou 3kg, porque eu simplesmente não conseguia comer. E veio junto a sensação de que dava para continuar tocando a vida sem recuperar todo aquele peso morto, o que só me estimulou a continuar correndo.

E aí, chegou o Nando - para quem não conhece, devo dizer que o rapaz é sarado, todo musculoso - e, com ele, uma vontade de melhorar, de ficar mais bonita e melhor comigo mesma. Começamos a correr juntos, e o estímulo foi só aumentando para impulsionar uma mudança ainda maior.

Os hábitos foram sendo adquiridos aos poucos, e se incorporaram à rotina. Esfoliante. Hidratante. Leave-in. Lancheira com sanduíche e suco pra levar ao escritório. Arroz integral. Menos coisas gordurosas. Menos chocolate. Musculação. Corrida com dia e horário inadiáveis. Peito de peru defumado. Sobremesa só às sextas-feiras. Férias em Salvador correndo na praia todos os dias. Hidratante com uréia para cotovelos e pés. Hidratante para as mãos. Filtro solar todos os dias antes de sair de casa. Iogurte desnatado com aveia no café da manhã. Comunidades de corrida no Orkut. Tênis Asics top de linha para pisada pronada. Saber o que é pisada pronada. Menos refrigerante. Mais sucos. Muita fruta.


Meio sem querer, quando assustei, meus hábitos de vida tinham se tornado tudo aquilo que médicos e nutricionistas recomendam. Alimentação balanceada, exercícios e cuidados diários com a pele. Assustador.

O problema é que esse negócio vicia, porque os resultados são muito claros. Tenho um corpo hoje que nunca tive antes, com pouca gordura, firme, desenhado. As calças servem!!! Os vestidos ficam bonitos! E a pele está bonita, firme, quase sem espinhas.

As manchas que tinha nos dentes, causadas por corantes artificiais das bobagens que eu comia, simplesmente desapareceram. Dentes brancos! E eles também pararam de se desgastar, porque finalmente fiz minha plaquinha de bruxismo (eu ranjo os dentes à noite).

Sinto disposição para tudo o tempo todo, não tenho mais preguiça de sair de casa, ou de fazer uma caminhada. Levanto cedo sem reclamar, não fico mais mole e sonolenta.

Não sinto mais dores nas articulações, mesmo quando fico trabalhando no computador, porque a musculatura de sustentação está forte. Para o Aikido, isso é uma bênção, com aquele monte de chaves. Aliás, não fico mais ofegante durante o treino, encaro tudo numa boa.

Foi uma mudança radical, e teve um custo nos meus prazeres imediatos - em especial na comida. Mas o prazer que isso vem me trazendo de tantas outras formas compensa sem discussão! E acaba me fazendo sentir um pouco mais adulta, bem agora, às vésperas de completar meu primeiro quarto de século. É como se eu tivesse entendido, finalmente, que sou responsável pelas conseqüências das minhas escolhas, e que posso fazer escolhas melhores agora.

O próximo passo é criar uma rotina de estudos. Vou um passo de cada vez, mas o que consegui implementar nos hábitos de saúde me mostrou que é possível, sim, e que depois que nos acostumamos, é difícil até lembrar de como era a vida antes.


Eu, Nando e mamãe, depois de uma prova
(Sim, todo mundo ganha medalha, igual olimpíadas de colégio - "o importante é competir", lembram?)

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Começando 2009 atrasada

Só para fazer o primeiro post do ano, um cartum sensacional do Allan Sieber (clique no cartum para ver em tamanho maior), que resume exatamente o que eu gostaria de aconselhar todas as pessoas do mundo a fazer:


E é isso, enquanto me falta criatividade para fazer um post mais elaborado. Desejo a todos um 2009 digno de figurar com destaque na estante.