domingo, 31 de agosto de 2008

Tempo

O que eu queria era falar do tempo. Queria dizer que ele passou de repente. De repente "it dawned on me" que a vida é outra.

Amanheceu hoje um lindo dia fresco e ensolarado, com um céu limpo de chuva que caiu ontem de uma vez. O barulho da chuva na janela me fez feliz, o vento com cheiro de terra molhada, de poeira assentando. Eu sou da chuva. Quando as coisas importantes acontecem na minha vida, está chovendo.

A vida é outra, existe uma nova canção no meu peito, há no meu gesto um outro gesto, uma outra voz na minha voz. Há no meu ser o que sou e não sei.


Veio o tempo, e mudou a configuração das dunas do areal. Moveu as nuvens. Roeu as montanhas. O tempo veio e criou um vale pro rio passar. E o rio do desejo veio correndo por esse novo leito, veio enchendo as margens de verde, fazendo brotar as pastagens e as flores.

O tempo cicatrizou as feridas, amorteceu as dores, aparou as arestas. O tempo trouxe paz, e trouxe guerra para fazer valer a paz. Trouxe lembrança e esquecimento, que é lembrando e esquecendo que se constrói a história de cada um.

E só o tempo, só ele, permite construir o amor. No tempo o amor brota e se enrosca, frutifica, se fortalece, cria raiz, invade a vida, ilumina os dias, dá sentido, conduz.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Meu santo é forte...

Atualizando: nem eu sabia que o santo era tão forte. Depois de tantas decepções nessas Olimpíadas... Maurren Maggi é ouro! Com um belo salto de 7,04m, ela venceu Tatyana Lebedeva, sua principal concorrente depois da eliminação da portuguesa Naide Gomes.

Já falei tudo o que precisava falar sobre ela no post anterior. Ficam só as imagens:

O salto...


... e a comemoração!

terça-feira, 19 de agosto de 2008

No clima olímpico

Para não dizer que não falei das flores - ou melhor, das Olimpíadas - vou falar de uma atleta por quem venho torcendo já há um bom tempo: Maurren Higa Maggi, saltadora em distância.

Maurren chega a esses Jogos como uma atleta experiente e bem preparada, com grandes chances de ser medalha de ouro, em especial depois que sua principal rival foi eliminada ontem (a portuguesa Naíde Gomes). Depois da prova, em que fez o segundo melhor salto, de 6,79m, estava sorridente e confiante, mandou beijos para a filha Sofia, deu tchau para as câmeras.

Mas a razão pela qual torço por Maurren não é apenas a sua competência como atleta, nem o seu carisma. Torço por Maurren porque ela é o maior exemplo que conheço de força de vontade e garra. Enquanto tantos atletas fraquejam diante de pequenas dificuldades, ela teve força para chegar ao topo duas vezes: a segunda, hoje em dia, depois de conhecer o abismo.

Em 2003, às vésperas do Pan de Santo Domingo, em que era favorita, Maurren foi pega no exame antidoping, por uma substância contida em uma pomada cicatrizante que usou depois da depilação a laser. Sua versão dos fatos foi confirmada pela jornalista Luciana Ackermann, que decidiu tirar a prova, fazendo a mesma depilação e usando a mesma pomada, na mesma dosagem que Maurren - e acusando no exame o mesmo nível de clostebol que a atleta. Diante desse e de outros fatos, Maurren foi absolvida por unanimidade pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva, no Brasil. Porém, quando o caso foi remetido para a justiça desportiva internacional, ela foi condenada a 2 anos de suspensão, e, desanimada, não apresentou defesa para a Corte de Arbitragem do Esporte.

Magoada e decepcionada, durante o afastamento ela se casou, teve uma filha, pensou em desistir de vez. Mas o casamento acabou, e, sem chão, ela decidiu voltar. E voltou em grande estilo, ganhando o GP Americano, em Bogotá, em 2006. Em 2007, ganhou o ouro nos Jogos Panamericanos do Rio.

Ainda não sabemos o final dessa história olímpica, que será decidida em Pequim, nessa sexta-feira. Numa Olimpíada de resultados medíocres para o Brasil (vide o blog Bronze Brasil 2008), e surpresas desagradáveis como as ocorridas com Diego Hypólito e Fabiana Murer, infelizmente tudo pode acontecer.

Não sou fã de esporte, em geral, mas sou fã dessa mulher forte e decidida, e torço para que ela fique no topo do pódio. Não por representar um resultado para essa abstração que é um país, nem para melhorar nosso quadro de medalhas, mas por ela mesma, e por tudo o que passou até poder voltar a sorrir para as câmeras.

Quadro da Revista Veja - as chances de Maurren

Mais sobre a Maurren:

Revista TPM - matéria de novembro/2006, logo depois da volta
Revista Veja - matéria pré-olímpica de julho/2008
Site Terra - entrevista logo depois da vitória em Bogotá

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Não-Leituras

Estou quase acabando de ler um dos livros que foi um frisson na FLIP desse ano: Como Falar dos Livros que Não Lemos, de Pierre Bayard. Aproveito para escrever o post antes de efetivamente acabar, exatamente para poder fazer jus ao título...

O fato é que, apesar do título, o livro não é um manual para falar sobre livros que não lemos. Ou melhor - não no meu ver. Afinal, um dos exatos pressupostos adotados pelo autor é o de que duas pessoas não lêem um mesmo livro. O fato de que percorri com os olhos um determinado texto não significa que a minha compreensão foi a mesma da pessoa que o escreveu, nem a mesma das outras pessoas que o leram.

Portanto: para mim, o livro não é um manual para falar sobre livros que não lemos. É, isso sim, um ensaio sobre a relação entre leitura e não-leitura, e sobre os diferentes papéis simbólicos dos livros. Um conceito recorrente é o do "livro interior", a imagem que cada pessoa cria de determinado livro, e que é absolutamente única para o leitor. Outro, o da "biblioteca coletiva", o conjunto de livros que constituem o imaginário de um determinado grupo.

Fiquei interessada pelo livro, inicialmente, porque muitas algumas vezes já me manifestei sobre livros apenas folheados, ou de que sempre ouvi falar, como se já os tivesse lido. E, ainda, porque tendo a me esquecer completamente de certos livros, a tal ponto de parecerem novos e surpreendentes quando os releio, algum tempo depois (eu sou do tipo de pessoa que esquece o final da piada e ri quando escuta de novo...).

Porém, o que percebi com a leitura é o próprio livro desafia essa idéia. Quem se propõe a falar dele sem lê-lo vai, inevitavelmente, considerar que se trata de uma apologia à não-leitura. Mas quem se dispuser a ler vai perceber que não é apenas isso, que se trata, muito mais, de um livro que examina a possibilidade da leitura propriamente dita, e as lacunas deixadas pela cultura.

O que é ler? Quando podemos dizer que lemos um livro? Eu li "A Montanha Mágica" e "O Retrato do Artista Quando Jovem", mas já me esqueci de quase tudo - posso considerar, então, que realmente os li? E o que dizer da "Divina Comédia", do "Dom Quixote" e do "Fausto", que habitam minhas prateleiras, com marcadores empoeirando logo nas primeiras páginas - foram lidos?

Continuo tentando ler, continuo com minha compulsão pela leitura (e pela compra de livros), mas agora, pelo menos, não me frustro tanto, ao pensar que somos tantos os não-leitores.

Wordle

A Rosana Hermann indicou, e eu adorei. Um site chamado Wordle.net, que cria uma espécie de "nuvem de tags" com textos inteiros. Joguei lá o texto de um dos meus posts, e saiu esse negócio lindo:


Dá pra alterar o layout, a fonte, a cor... É viciante, já joguei vários textos para ver a forma que iriam tomar!