segunda-feira, 1 de março de 2010

De mudança!

Decidi migrar o blog para o Wordpress. Já fazia um bom tempo que vinha considerando essa hipótese: administro um blog de adestramento no Wordpress, e acho as ferramentas muito mais precisas, e tudo muito mais fácil de personalizar.

Por enquanto, vou manter os dois endereços, mas as postagens novas só vão aparecer por lá.

Quem assina o feed RSS não precisa se preocupar, ele vai continuar funcionando (viva o Feed Burner!).

O endereço atual é:

http://arealidadeelouca.wordpress.com

Serão todos muito bem-vindos à nova casa!

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

E la nave va... (título-clichê do dia)

Fui ontem a um churrasco na casa de uma amiga de infância. Casa que frequento desde que foi construída, quando eu tinha aí os meus 11, 12 anos. Além de mim, estava também a outra amiga de infância que completa o trio. Sentamos à beira da piscina e da churrasqueira com o dono da casa, e ficamos de prosa até escurecer.

O lado mais interessante de ter amigos de infância é ter pessoas para lembrarem de como éramos há muito tempo, e como mudamos, e também poder observar nelas o mesmo. Mais do que família, são os amigos que nos mostram o passar do tempo.

E são os amigos que evocam as lembranças. O cachorro que eu conheci filhote, que fazia festa para mim, e morreu no ano passado. Os outros tantos churrascos, ao som de Paralamas, Engenheiros, Kid Abelha e Djavan (sim, Djavan - sempre toca, nunca entendo o porquê). As histórias das brigas, dos acidentes, das bagunças. Os rolos, términos, paixões platônicas, namoros curtos e longos. Os problemas de família, irmãos, pais, brigas. Tudo aquilo que nos levou a ser quem somos, hoje.

Nesse momento de crescer e romper com o que ainda me segura, de sair pro mar em busca da ilha desconhecida, encontros assim são especialmente importantes. São eles que dizem que minhas escolhas me levam para frente, mas não me roubam o que já vivi. Soltar as amarras não significa perder o passado, mas aprender com ele e seguir.

Reli "O Conto da Ilha Desconhecida", aliás, esses dias. Junto com "O Velho e o Mar", é um dos meus livros favoritos. E é com certeza simbólico que sejam ambos livros sobre a relação dos homens com o mar, e sobre ir em busca de sonhos, lutar para conquistá-los. Apesar da náusea, apesar do medo, vou.

Pensei em fazer um post cheio de notícias, mas vejo que parte do processo tem sido aprender a calar. O último post, antes desse, foi o centésimo do blog, e não é à toa que foi seguido por um longo hiato. Estou guardando para mim o que ainda é projeto e começo, e me preservando. Vai também chegar o momento de falar.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Nostalgia de Natal

Natal é o tempo da nostalgia por excelência. O reino do passado.

Natal de adulto é sinônimo de excessos: nos gastos, no consumo de calorias e bebidas alcoolicas, no calor das discussões familiares. É antecedido por uma semana de stress e trânsito ruim, e seguido pela ressaca e pelo vazio. Mas não há grande prazer nessa orgia, e nem mesmo nos presentes - muitas vezes dados por obrigação e recebidos com desdém, despidos de sua função precípua de encantar e fortalecer laços.

Submetemo-nos, porém, às tradições, vagando por elas como zumbis, porque temos sempre a esperança de resgatar o Natal que já tivemos, que é o lugar da infância. Pertence à infância o prazer com a árvore enfeitada, com a guirlanda pendurada na porta. A antecipação, a ansiedade sem obrigações a cumprir. A noite mágica de guloseimas inéditas, os presentes longamente desejados, a fantasia do Papai Noel.

Anos se passam sem que consigamos reaver essa sensação, e ainda assim, persistimos. A eterna busca dos prazeres da infância, simbolizada num peru assado, e num velhinho suando sob uma roupa vermelha nas luzes incômodas do shopping center.

Talvez fosse muito mais simples reencontrar esses prazeres se, ao invés de repetir o ritual, seguindo os passos da infância, buscássemos aquilo que efetivamente nos alegrava: o encantamento. O momento de estar em família, de receber afeto, de nos sentir queridos, de sentir que o mundo era um lugar especial.

Vamos crescendo, e nos desencantamos, e em vão pensamos que repetindo a infância, nos resgataremos. Mas o que resgata de verdade é buscar outras formas de se encantar, é encontrar nas pessoas que amamos, nas experiências que vivemos, motivos para acreditar que a vida é, sim, especial - louca, cheia de boas surpresas, difícil, imprevisível, surpreeendente.

Que as tradições possam deixar de ser reencenações vazias, para se tornarem um bom pretexto para buscarmos o que nos encanta, e para que nos deixemos encantar novamente, a cada instante. Essa é a magia do Natal.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Metamorfoses

Chega uma hora em que finalmente a infância fica para trás, junto com um punhadinho de ilusões que ainda restava.

Uma hora em que é preciso enfrentar o medo do desconhecido, o medo do fracasso, o medo da morte, o medo da solidão, e fazer o que precisa ser feito.

Hora em que se aprende a perder, e que se descobre que esse aprendizado é, de fato, a maior das liberdades.

Em que se percebe que é preciso fazer as escolhas mais duras, e abandonar de vez as adolescências, as crises, as procrastinações.

Que a vida é tosca, mesmo, que as cenas não são de filme, os romances não são heroicos, os dramas não são plenos, e a comédia pastelão está sempre prestes a começar.

O humor é fundamental, a leveza é a chave da sanidade, responsabilidade não é fardo, crescer é aprender a carregar sem reclamar a bagagem que se recebeu.

2009, na prateleira, difícil como foi, sofrido como foi, fica guardado como o ano em que virei gente grande de vez. E nem estou achando tão ruim.

domingo, 29 de novembro de 2009

Resoluções de Ano Velho


Antes que esse ano acabe, antes que chegue o Natal, trazendo o fast-forward dos últimos dias, ainda há tempo de resolver. Detesto resoluções de Ano Novo e promessas de mudança na segunda-feira, condicionando a força de vontade a um arbitrário "começo" do calendário. O que é que impede de trocar de emprego na quinta-feira, de fazer regime no sábado, de parar de fumar em outubro?

Entendo que sejamos dominados pelo simbólico. Balizamos nossas vidas por rituais. Amamos os números redondos. Buscamos as coincidências, os padrões, temos imensa dificuldade com a aleatoridade. Queremos que o primeiro dia do ano seja o primeiro dia do "resto de nossas vidas".

Mas, para isso, acabamos postergando decisões que seriam úteis hoje. Deixamos para um outro dia mais mágico, uma ocasião especial, o momento adequado da conjunção dos astros. Não queremos que algo comece num dia comum. Como se algum dia fosse mais do que comum, embora destacado por quaisquer forças externas - o Papa Gregório, o Presidente da República, as contrações do parto.

Por isso, defendo que adotemos as resoluções de ano velho. É essencial que sejam tomadas num dia qualquer - pode ser inclusive uma segunda-feira, desde que ser segunda-feira não seja essencial à escolha. É importante também que não sejam tomadas todas uma vez: alguma invariavelmente ficará pelo caminho, senão todas. Cada resolução deve ser tomada em seu tempo próprio, não importando nem mesmo que ocorram em anos diferentes.

Torná-las públicas é opcional, mas, para o bem da sanidade mental de cada um, recomendo mantê-las para si. Resoluções mantidas por força de cobrança externa acabam se tornando fardos. É recomendável, ainda, anotá-las em algum lugar, de forma a permitir que, eventualmente, sejam recordadas ou abandonadas de forma definitiva e oficial. É preciso coragem para olhar uma resolução no olho e deixá-la para trás, embora mesmo isso possa ser libertador.

Aliás, nem peço perdão aos covardes: coragem é fundamental para quem pretende fazer resoluções de qualquer tipo. É preciso assumir o risco de descumpri-las e lidar com a própria fraqueza, ou o pior risco ainda, o de realizá-las, e ter que encarar que os problemas que antes eram muletas não são mais. É bom começar abandonando a primeira, e deixando o calendário para lá.

domingo, 15 de novembro de 2009

Ele Acaba

É de Paulo Mendes Campos o texto que dá nome a este blog, e mais uma vez me vejo tentada a recorrer às palavras dele, que escreveu uma linda e sofrida crônica chamada "O Amor Acaba", em que diz:
"O amor acaba. Numa esquina, por exemplo, num domingo de lua nova, depois de teatro e silêncio; acaba em cafés engordurados, diferentes dos parques de ouro onde começou a pulsar; de repente, ao meio do cigarro que ele atira de raiva contra um automóvel ou que ela esmaga no cinzeiro repleto, polvilhando de cinzas o escarlate das unhas; na acidez da aurora tropical, depois duma noite votada à alegria póstuma, que não veio; e acaba o amor no desenlace das mãos no cinema, como tentáculos saciados, e elas se movimentam no escuro como dois polvos de solidão; como se as mãos soubessem antes que o amor tinha acabado;"

Fato é que o amor acaba. Acaba nas pequenas agressões do cotidiano, e nas grandes agressões inesperadas. Acaba no desencanto e na indelicadeza, porque o amor é coisa frágil, cristal. Acaba no desencontro, no descompasso, acaba nas horas mortas da madrugada, acaba no susto, no medo, na submissão.

Deixa em seu lugar um incômodo que é mais que dor. É vazio e escuro, um buraco - não no peito, mas no estômago, como uma úlcera, roendo por dentro, queimando. Um desejo de posição fetal e imobilidade morna. É o desalento.

E quando o amor não acaba, mas é vencido pelas circunstâncias, então é preciso matá-lo, lentamente, com doses diárias de algum veneno insidioso. O amor não morre com balas de prata, nem com estaca no peito, há que se ter paciência e constância para sufocá-lo (como para mantê-lo, diga-se).

Com essa morte, vem o sofrimento da absoluta necessidade de alienar o outro: transformar em estranho e distante aquilo que antes era proximidade, conforto e a mais completa intimidade. Converter a comunhão de corpos e almas em polidez tépida, e seguir como se não fosse habitada por um vulcão.

Por fim, dificultando tudo, é preciso elaborar o luto - aceitar a perda, a morte do outro em mim, e de mim nele - para poder sobreviver. E sobrevivemos, todos, com exceção daqueles que, se não morressem de amor, morreriam de tédio.

Então, é de novo o meu amigo (pena que nunca pudemos sentar numa mesa de boteco) Paulo que conclui:

"...em todos os lugares o amor acaba; a qualquer hora o amor acaba; por qualquer motivo o amor acaba; para recomeçar em todos os lugares e a qualquer minuto o amor acaba."
Porque o amor não acaba de verdade - sempre há amor em nós, que vivemos de amar e ser amados, e sem isso, nada somos.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

“Guinada 360º”

degrees-360

Estou me sentindo exatamente como o título desse post: depois de tanto girar, continuo no mesmo lugar.

A análise vai bem. Pelo menos, já consegui diminuir meus instintos assassinos no trânsito, o que contribuiu para melhorar muito meu humor, em geral. Mas ainda não consegui progresso nos meus bloqueios de carreira, na minha inércia, e num bocado de conflitos e sintomas que estão por aí. Sim, eu sou ansiosa, embora saiba que esse tipo de coisa não se resolve de um dia para o outro.

Falando em carreira, fiz o concurso de Procurador do BACEN. Estudei? Claro que não. Por consequência óbvia, tomei uma ferrada sem tamanho. Menos de 50% da prova (tava difícil, mas pô… Nem 50?!).

Fui muito mal-acostumada, porque me saí bem durante toda a vida acadêmica praticamente sem esforço. Ia às aulas, e até fazia exercícios que o professor mandava, mas estudava só na véspera da prova, e ainda ficava entre os melhores alunos. Foi assim no colégio todo, foi assim que passei no vestibular, foi assim na faculdade, foi assim no Exame da Ordem. Mas aí empaquei, porque concurso, hoje em dia, não é uma disputinha qualquer. Não dá pra levar “no sapatinho” (#gíriadécadade90).

No fundo, ainda fico achando que vou conseguir passar só com meus belos olhos, sem ralar como todo o resto das pessoas. Como se eu fosse assim muito especial, ungida, uma mente privilegiada e inigualável. Só que, por razões óbvias, não tá dando certo.

Estou com 2 anos e meio de formada – colei grau, oficialmente, em fevereiro de 2007 – e continuo presa num emprego de meio período que paga proporcionalmente a isso, sem conseguir sobreviver da minha profissão, sem coragem para largar e ir fazer outra coisa (embora vá dar um seminário de adestramento em novembro), morando na casa de mamãe e longe dos cachorros, sem poder nem ir ao cinema por falta de grana.

Girei 360º. Agora preciso, pelo menos, conseguir andar para frente em linha reta.