
Antes que esse ano acabe, antes que chegue o Natal, trazendo o fast-forward dos últimos dias, ainda há tempo de resolver. Detesto resoluções de Ano Novo e promessas de mudança na segunda-feira, condicionando a força de vontade a um arbitrário "começo" do calendário. O que é que impede de trocar de emprego na quinta-feira, de fazer regime no sábado, de parar de fumar em outubro?
Entendo que sejamos dominados pelo simbólico. Balizamos nossas vidas por rituais. Amamos os números redondos. Buscamos as coincidências, os padrões, temos imensa dificuldade com a aleatoridade. Queremos que o primeiro dia do ano seja o primeiro dia do "resto de nossas vidas".
Mas, para isso, acabamos postergando decisões que seriam úteis hoje. Deixamos para um outro dia mais mágico, uma ocasião especial, o momento adequado da conjunção dos astros. Não queremos que algo comece num dia comum. Como se algum dia fosse mais do que comum, embora destacado por quaisquer forças externas - o Papa Gregório, o Presidente da República, as contrações do parto.
Por isso, defendo que adotemos as resoluções de ano velho. É essencial que sejam tomadas num dia qualquer - pode ser inclusive uma segunda-feira, desde que ser segunda-feira não seja essencial à escolha. É importante também que não sejam tomadas todas uma vez: alguma invariavelmente ficará pelo caminho, senão todas. Cada resolução deve ser tomada em seu tempo próprio, não importando nem mesmo que ocorram em anos diferentes.
Torná-las públicas é opcional, mas, para o bem da sanidade mental de cada um, recomendo mantê-las para si. Resoluções mantidas por força de cobrança externa acabam se tornando fardos. É recomendável, ainda, anotá-las em algum lugar, de forma a permitir que, eventualmente, sejam recordadas ou abandonadas de forma definitiva e oficial. É preciso coragem para olhar uma resolução no olho e deixá-la para trás, embora mesmo isso possa ser libertador.
