segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Aporia

No E-Dicionário de Termos Literários, Carlos Ceia assim define a aporia:

"[Do gr. aporia, “caminho inexpugnável, sem saída”, “dificuldade”.] 1. Dificuldade, impasse, paradoxo, momento de auto-contradição ou blindspot que impede que o sentido de um texto ou de uma proposição seja determinado.(...)
2. Como figura de retórica, a aporia diz respeito àqueles momentos em que uma personagem dá sinais de indecisão ou dúvida sobre a forma de se expressar ou de agir. O melhor exemplo é o célebre solilóquio de Hamlet, de William Shakespeare, consagrado na expressão “to be or not to be” (Acto III, 1).(...)"

O dicionário Caldas Aulete prevê três significados para a palavra "áporo":

1. problema insolúvel; situação sem saída;
2. uma espécie de inseto que cava a terra;
3. uma orquídea verde.

Fui atrás desses significados porque hoje me lembrei de um dos mais enigmáticos poemas de Drummond, "Áporo" - e agora vejo como ele facilmente se relaciona ao meu momento atual:

Áporo

Um inseto cava
cava sem alarme
perfurando a terra
sem achar escape.

Que fazer, exausto,
em país bloqueado,
enlace de noite
raiz e minério?

Eis que o labirinto
(oh razão, mistério)
presto se desata:

em verde, sozinha,
antieuclidiana,
uma orquídea forma-se.
"Áporo", sem poro, sem saída, cavando um buraco onde se esconder, por onde tentar fugir. Brotando em orquídea verde - que é flor e folha, indecisa sobre o que pretende ser.

Ando tendo sonhos persecutórios recorrentes. Mudam os personagens, mudam os lugares, mas se mantém a sensação de estar encurralada, cercada de perseguidores desconhecidos, poderosos e onipresentes. Permanece também a angústia de não ter para onde correr, não enxergar saída, e nem saber ao certo a razão da perseguição.

Como a orquídea verde, indecisa, em aporia. Como o inseto áporo, cavo um buraco cada vez mais fundo, a pretexto de procurar uma saída. Como num labirinto, perdida.

Como Hamlet:

"To be, or not to be, that is the Question:
Whether 'tis Nobler in the mind to suffer
The Slings and Arrows of outrageous Fortune,
Or to take Arms against a Sea of troubles,
And by opposing end them
"

É mais nobre padecer ou se rebelar? Mais nobre aceitar o destino, ou se insurgir contra o que ele reserva? Ser, ou não ser?

Aporamente me pergunto o que fazer.





3 comentários:

Alessandra Mosquera disse...

Anda muito reflexiva,moça!

Enfim, espero que consiga encontrar o seu caminho!

Abraçao

Mondo Gatto disse...

Me deu stress... fiquei com vontade de dizer que o invisível e o desconhecido é a gente mesmo. Bjok.

Professor Luciano Fernandes disse...

Belo seu blog!!