sábado, 3 de maio de 2008

Declaração de amor

Existem afetos que interferem profundamente naquilo que somos. Meu avô é um, para mim.

Vovô é quase um menino na sua forma de amar. Ele ama perdidamente, e se doa por inteiro. Gosta de brincar, tem uma gargalhada gostosa, e uma paciência imensa para ensinar a uma menina de cinco anos a diferença entre um bem-te-vi e um sabiá.

Ele não é fácil: é impulsivo, explode violentamente de vez em quando (já me deu um beliscão que ficou roxo, quando eu tinha uns 12 anos), é ansioso e inconveniente. E, com tudo isso, é um homem formidável.

Não que isso seja corujice, ou melhor, é claro que é. É meu vô, e sou perdidamente apaixonada por ele. Mas não é só isso. Ele cativa a todos, vizinhos, porteiros, faxineiros, todas as pessoas que o rodeiam acabam sendo tocadas por essa onda de afeto e efusividade que emana dele.

E ainda que ele seja chato, é impossível sentir raiva de verdade de alguém que é tão intenso em tudo que faz. Depois de 48 anos de casado, ele ainda sente ciúmes da minha avó, e compra flores para ela. Aos 74 anos de idade, decidiu aprender a tocar teclado - e, embora não seja um talento, conseguiu. Aos 75, decidiu que ia comprar um computador, e aprender a mexer, e já está até se entendendo com o Google.

Essa capacidade de continuar vivendo, continuar encontrando motivos para querer viver, continuar achando que vale a pena aprender e se aperfeiçoar, é o meu avô, e é o que me faz admirá-lo tanto.

Tudo só pra dizer que ele ainda está internado, depois de uma trombose arterial na perna esquerda (mas já está bem melhor, deve ter alta na segunda), e que toda vez que ele nos dá esses sustos, eu começo a pensar em como vou sentir falta quando ele se for.

5 comentários:

Anônimo disse...

Lindo! Lindo!

Mas, sabe de uma coisa? Não fique pensando em como vai ser quando ele se for.

A gente nunca acerta! Eu juro!

Sem contar que deixa a gente pra baixo.

Eu espero que ele esteja bem melhor agora!!!

Um beijão, chefa!

Alessandra Mosquera disse...

Ai, ai... esse sentimento é foda! Eu também passo com isso com o meu pai, que tem quase 80 anos... é duro! mas como disse a Ana, pensar nisso só deixa a gente pra baixo.
Que sorte que vc tem avô, eu nunca tive...meu avô paterno já tinha morrido quando nasci e o materno, nem a minha mae conheceu. Ela tinha um padrasto, mas nunca senti que ele era meu avô.
Dê um abraço bem gostoso nele quando for visita-lo.

F. Gomes disse...

Esse avô nem imagina o quanto eu já o adoro sem nunca tê-lo visto. Tenho lembrado dele nas minhas orações e estou certo de que ele ainda vai ser adoravelmente ranzinza anos a fio.

Anônimo disse...

Minha primeira visita, e já saio comentando :)

Só conheço minha avó materna, que está aí até hoje. De resto, só ouço, e pouco, falar. Às vezes dá curiosidade, admito.

F. Gomes disse...

Ok, estupidamente ranzinza...